Desde garoto decorei
este nome, para mim inusitado (e que sempre achei lindo) porque juntava três nomes próprios (e que me
lembrava D. Pedro II e seus 14 nomes, mais um exagero aristocrático...). Quanto aos sobrenomes, aos poucos passei a estranhar um deles... O Ramos era comum na família, dos pais aos irmãos. O outro, Clavery, certamente do pai dela, me trazia a curiosa possibilidade de uma
ascendência francesa!
Vovó Joaninha, Pedro do Rio, 1976. Foto: Guina A. Ramos |
A partir deles,
encontrei parentes mais antigos... Em um site da igreja Mórmon especializado em histórias de famílias, o nome "José
Clavery". E os dados disponíveis eram:
1) nasceu em 1825 e
morreu em 1908;
2) casou em 1885 (aos
60 anos de idade), com Maria Júlia, nascida em 1844 (seria 19 anos mais nova), morrendo em 1943, portanto, aos 99 anos!;
3) diz que José Clavery teve quatro
filhos: o primeiro, em 1881 (de um casamento anterior ou quatro anos antes de casar?); os
seguintes, em 1885 (ano do casamento), 1886 e 1891. Depois li, em outro
lugar, que tivera outro filho, antes, em 1877.
Dados relativamente coerentes, mas talvez com algum engano: é de estranhar que Maria Júlia tenha
tido seus filhos dos 41 (ou 37?) aos 49 anos de idade... Creio que há um erro na informação da sua data de nascimento: seria
razoável pensar que nasceu em 1864, se casou com 20 anos em 1884
e morreu aos 79 anos, em 1943 (pontos a pesquisar e a confirmar, ou
não).
Sobre
José Clavery, as mais antigas informações (que achei) estão no jornal Mercantil, quando, numa edição de 1881, lista o alistamento de seu filho
Antonio Henrique Clavery e noutra de 1883, idem para outro filho, Cesário
Clavery. Ambos, portanto, na faixa dos 20 anos de idade, o que indica que não poderiam ser filhos da Bisavó Maria
Júlia, pois ela só se casou com José Clavery em 1885. Em suma, alguma confusão há quanto a datas e filhos...
Mas, há outras notícias. O mesmo jornal Mercantil publica, em edições de
Junho a Agosto de 1882, um edital para venda de
escravos "do espólio João Martins Ramos", mas que estavam sob a guarda de
José Clavery. É interessante que apareça, na região, um amigo (na época,
já falecido) com o sobrenome Ramos...
Em 1887, nova notícia relativa a escravos e ao Bisavô José Clavery. Desta
vez, devido à entrada em vigor da Lei do Sexagenário, a que libertava
todos os escravos que conseguiam chegar vivos aos 60 anos de idade. A lei beneficiou Carolina, cujo senhor era justamente José Clavery.
Outra referência é o "Guia de Petrópolis
para o anno de 1885", em que José Clavery consta na lista de "Fazendeiros e
Lavradores" (mas não diz em que lugar) e também na de "Negociantes", no ramos de
"Fazendas, armarinho, seccos e molhados, etc.", com
comércio situado em Sumidouro, distrito de Pedro do Rio, próximo a Itaipava.
Sumidouro
(não confundir com a cidade da região de Cantagalo) é local adjacente
ao Rio Piabanha, em um trecho onde, na seca, as suas águas parecem sumir
entre as pedras, para reaparecer pouco depois. A fazenda Sumidouro
(cujo local exato eu ainda não localizara) era muito antiga, vem dos anos 1700, citada em vários textos. Na Estrada União e Indústria (construída entre 1856 e
1861), Sumidouro é ponto de acesso para Cachoeiras, local onde nasceu Seu Oscar, meu pai (que também não localizei nos mapas atuais).
No
jornal Gazeta de Petrópolis (sucessor do jornal Mercantil, circulando de 1892 a 1904), também consultado na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, surge outra parte da história
de José Clavery. O destaque é o ano de 1893, o qual lhe foi, para seus 68 anos de idade, bastante movimentado...
Até que, em Julho, a coluna "Notícias da Câmara Municipal" informava a sua inserção no Poder Judiciário da época: "Procedeu-se à apuração da eleição de um juiz de paz do 3o. Distrito, tendo obtido o sr. José Clavery 15 votos", eleição logo validada pela Comissão de Justiça da Câmara Municipal.
Juiz
de paz é um magistrado (frequentemente sem formação jurídica)
que exerce funções judiciais tidas como "menores"
(conforme lugar e época: pequenas causas ou demandas, casamentos
etc.), resolvendo as contendas através de conciliação.
É evidente que estava
mudando de área de atuação, certamente por conta da crise na produção de café no vale do Paraíba
do Sul, passando de fazendeiro e comerciante a funcionário público (pelo Judiciário) e, logo depois, a político: em Outubro de 1894, José
Clavery foi eleito Vereador Distrital do 3o.
distrito, Itaipava. E continuou a sua trajetória: em 1896, foi eleito membro da Comissão de Alistamento; em
1987, foi reeleito Vereador Distrital; em 1900, já com 75 anos, foi
novamente eleito membro da Comissão de Alistamento.
Daí, não achei mais notícias até a sua morte, em 1908 (o jornal deixa de circular em 1904). Imagino que José Clavery, para exercer tais funções, teria que ser brasileiro. Mas, muito possivlmente, filho de pai francês, mais um item a pesquisar...
Daí, não achei mais notícias até a sua morte, em 1908 (o jornal deixa de circular em 1904). Imagino que José Clavery, para exercer tais funções, teria que ser brasileiro. Mas, muito possivlmente, filho de pai francês, mais um item a pesquisar...
Mas, o que
aconteceu com a viúva, Maria Júlia, minha bisavó, que viveu até 1943,
chegando, supostamente, aos 99 anos?... Uma sugestiva informação veio do site do
IHP,
Instituto Histórico de Petrópolis.
Até 1920, por aí, Itaipava era "um
simples arraial que vivia da agricultura e da indústria de tijolos,
um vilarejo pobre e um casario rústico, espalhado ao longo da
Estrada União e Indústria".
Foi então que "o
notável estadista Nilo Peçanha adquiriu terras pertencentes a D.
Maria Júlia Clavery, viúva de José Clavery, transformando a
fazendola ali existente numa bela propriedade, Itaipava começou a
atrair inúmeros veranistas".
Ou seja, diz o IHP, o progresso de Itaipava foi "iniciado
pelo saudoso estadista Nilo Peçanha, quando ali adquiriu uma fazenda
mais ou menos abandonada e na qual fez boas pastagens e excelente
pomar". A
propriedade (que só depois descobri onde era) passou a ser conhecida como
a "Fazendola
de Itaipava".
Nilo Peçanha foi presidente do Brasil em dois períodos (1909-1910, ao morrer Afonso Pena, de que
era vice, e 1914-1917), além de presidente (atualmente,
governador) do Rio de Janeiro, depois senador e ainda deputado. Morreu em
1924.
Repetiu-se assim o processo de transferência de propriedade dos empobrecidos
moradores do vale do Paraíba do Sul, após o
encerramento do ciclo do café na região, para veranistas
endinheirados que vinham do Rio de Janeiro, o que
também ocorreu na região de Areal, com a família de D. Nylza.
Nestas
pesquisas também apareceu o nome de nosso avô paterno, João Muniz Pereira Ramos, que
se casaria com Ana Joana Francisca, e até o de seu pai, João Muniz Pereira, outro bisavô.
Mas esta parte da história da família fica para depois...
Mas esta parte da história da família fica para depois...
[Na sequência, 3. Buscando o bisavô Muniz]
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