17/02/2021

3. Buscando o bisavô Muniz

Foi surpreendente e emocionante encontrar (como descrevi em 02 - Buscando os bisavôs Clavery) os bisavós dos irmãos Araújo Ramos por parte de pai, o casal José e Maria Júlia Clavery, pais de Vovó Joaninha, a mãe de Seu Oscar (que é como vou me referir a meu pai nestes textos). 
 
Boa parte das informações tirei das notícias do jornal Gazeta de Petrópolis da virada do século XIX para o XX. E não é que nesses jornais aparece também nosso outro bisavô paterno, João Muniz Pereira, também morador da localidade Sumidouro, município de Pedro do Rio?... Aparece com menos frequência do que o bisavô José Clavery, cujo status social era certamente mais elevado (tanto que, a partir dos seus 60 anos, foi eleito vereador distrital e juiz de paz), mas também tem o seu destaque.  
 
A primeira notícia sobre João Muniz Pereira (o Bisavô Muniz) é do jornal Mercantil (antecessor do Gazeta de Petrópolis), em 5 de abril de 1884, que cita "Virginia, filha de João Muniz Pereira" entre as crianças que "durante o mez de março forão baptisados nesta freguezia". E depois, na edição de 17 de fevereiro de 1886, inclui "Anna, filha de João Muniz Pereira" entre os batizados de Janeiro. Há ainda, no jornal Mercantil, o intrigante aviso da edição de 17 de fevereiro de 1888, que reconhece nele alguma importância social, possivelmente por conta de alguma transação comercial: "Agencia de Correio - relação das cartas registradas existentes nesta agência: João Muniz Pereira (com valor)".

No Gazeta de Petrópolis, na década seguinte, as notícias são diferentes... De início, na edição de 29 de agosto de 1894, o Bisavô Muniz aparece na lista de "Cidadãos eleitores do município de Petrópolis, pela revisão e qualificação de 1894". Anos mais tarde, na edição de 18 de julho de 1901, entra na lista dos doadores do Asylo de Nossa Senhora do Amparo com uma subscrição, ainda que não das maiores, de 2$000 (dois mil réis).

Participar desta subscrição também indica que contava com bastante prestígio social, certamente advindo da condição de proprietário de terras. É também o que fica evidente na "Ata da sessão da Câmara Municipal de Petrópolis de 23 de janeiro de 1896", quando um fiscal comunica terem sido "levados pelas enchentes dois pontilhões, sendo um sobre o córrego que passa por terrenos de João Muniz Pereira", o que lhe teria dado despesas de "mais de cem mil réis". 
  
Problema, aliás, que só teria solução em 1902, quando o Presidente da Câmara manda publicar o edital da obra de substituição do pontilhão, "no logar denominado Cachoeiras, na estrada do Sumidouro a Santa Rita, em terras de João Muniz Pereira", um local impreciso, devido às mudanças de nome dos lugares.

O Bisavô [João] Muniz [Pereira] é pai do Avô João [Muniz Pereira Ramos], nosso avô paterno, marido de Vovó Joaninha, ou seja, pai de Seu Oscar. A diferenciação entre bisavô e avô, no caso, é o acréscimo do sobrenome "Ramos". O novo sobrenome que se forma (Pereira Ramos), o do filho Oscar, aparece na edição de 2 de junho de 1900 da Gazeta de Petrópolis, na lista do "Alistamento eleitoral do anno de 1900, da 3a. secção, do 3o. districto no município de Petrópolis". 


E a relação entre os dois fica evidente na edição de 5 de Julho de 1900, com o registro do alistamento, no "segundo quarteirão" (?), com o número 79, de "João Muniz Pereira Ramos, 22 annos, solteiro, lavrador, filho de João Muniz Pereira", futuro pai de Seu Oscar, nosso pai.


Como e porquê "Ramos' foi acrescido ao nome do Avô João, para seguir depois na família?... Teria vindo o sobrenome Ramos da família da bisavó, da qual ainda não me apareceu notícia?... Teriam eles quebrado a regra geral brasileira do sobrenome dos filhos (formado, nesta ordem, pelo da mãe e o do pai) para diferenciar os dois?... 
 
O fato é que desapareceu da família o sobrenome Muniz, muito comum na região (e assim, inclusive, era chamado um tio de Seu Oscar que vivia em Areal, Manuel Muniz, o Tio Muniz). Depois, na geração seguinte, desapareceu o sobrenome Pereira, substituído pelo Araújo nos nomes dos filhos de Seu Oscar e D. Nylza.

Esta relação pai-filho volta a ser registrada mais tarde, ainda por conta das listas de alistamento de eleitores, por outro jornal, o Gazeta Fluminense, de 14 de julho de 1905. [Nesta nota, surpreendentemente, o bisavô é chamado de João Muniz Ramos, e não Pereira!... Acho que pode ter havido um erro do jornal, e isto porque em todas as notícias anteriores, citadas acima, lhe dão o nome João Muniz Pereira.]

Este novo registro também cria dúvidas quanto ao ano de nascimento de Vovô João: 1878 (pela notícia anterior) ou 1879 (por esta). Mas dá outra informação interessante, a de que ele, entre os anos de 1900 e 1905, com 22 a 26 anos, se casou com Joana Clavery. O que faz todo sentido, pois Seu Oscar nasceu em 1907, e não foi o primeiro dos 14 filhos (acho que o terceiro). Vovó Joaninha, que nasceu em 1885, teria entre 15 e 20 anos, idade muito normal para se casar, na época.

As duas famílias seriam vizinhas, vivendo ambas em fazendas da área de Sumidouro. Transparece das notícias do Gazeta de Petrópolis que os dois bisavôs exerciam o mesmo tipo de atividade econômica, eram fazendeiros. Ambos tinham, por exemplo, moinhos de fubá. O que deve ter deixado de ser um bom negócio por ali na época. José Clavery, o Bisavô Clavery, pediu a "eliminação [do pagamento] do imposto de moinho de fubá" em Julho de 1893, época em que passou para a política. João Muniz Pereira, o Bisavô Muniz, fez o mesmo em 1900, conseguindo a "eliminação do imposto de moinho de fubá no corrente exercício". 
 
Ao que parece o Bisavô Clavery, graças à mudança de atividades, conseguiu uma maior sobrevida econômica, mantendo na família a Fazenda Sumidouro até cerca de 1920, quando a Bisavó Maria Júlia, sua viúva, a vendeu ao ex-presidente Nilo Peçanha. Já o Bisavô Muniz deve ter tido mais dificuldades e perdido suas terras antes, embora por enquanto não dê para saber quando. 
 
Casa de Vovó Joaninha - Google Street View, 2015
Sabe-se que Avô João e Vovó Joaninha viveram em uma casa na Estrada União e Indústria perto da entrada de Sumidouro. Depois, por volta dos anos 1920, creio, se mudaram para a casa em que eu a conheci, viúva desde 1935, mais perto de Pedro do Rio, entre a estrada e o rio. Casa que, mais tarde, em outras mãos, foi desfigurada, com acréscimos de galpões, e usada como oficina.
Assuntos para as próximas publicações...
 

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