18/02/2021

4. Fazenda [da] Cachoeira, onde nasceu Seu Oscar

Condicionado pela reinante situação de pandemia, que não permite ir conferir no local, as conclusões momentâneas deste blog estão, certamente, muito mais para especulativas do que para lacradoras... 

Sem poder fazer investigações in loco, resta deixar dúvidas mais difíceis para depois. Uma questão que ainda não foi possível  esclarecer com precisão é a de saber onde viveram os bisavôs paternos, ainda no século XIX.

Fazenda da Cachoeira, Sumidouro, Pedro do Rio, Petrópolis - foto Guina Araújo Ramos, 2003
Em 2003, passei uma temporada de três meses em Areal, na "casa de bonecas" de D. Nylza, na Rua Afonsina, aos fundos da principal da família. E com ela, Tia Batuta e Tio Cica (no comando de seu Fiat Uno vermelho) fizemos várias excursões pela região. 
Numa delas, fomos procurar o lugar onde nasceu Seu Oscar, com a inexplicável participação de meu irmão Raul (que nem eu nem ele se lembra como entrou nessa). 

O passeio incluiu uma visita à casa em que Vovó Joaninha morou, com alguns de seus filhos, nossos tios, irmãos de Seu Oscar, à época sob os cuidados de Tia Albertina, a última destes tios a viver na casa.

Fazenda da Cachoeira - foto Guina Araújo Ramos, 2003
E dali, graças às lembranças dos nossos guias locais, achamos a casa onde nasceu Seu Oscar!
Atualmente, eu e Raul só conseguimos nos lembrar de que era um caminho sinuoso. Por ele, acho que por indicação de Tio Cica, chegamos a uma espécie de fundo de vale, cercado de morros. 

E lá estava a tal casa, um clássico e belo sobrado (como as fotos descrevem melhor do que eu sou capaz). Infelizmente, totalmente fechado, portas e janelas bloqueadas, aparentemente abandonado há algum tempo. 
 
Fazenda da Cachoeira, Petrópolis - foto Guina Araújo Ramos, 2003
Difícil, agora, é recuperar a localização exata, ainda mais pesquisando apenas em mapas da Internet, sem poder voltar ao local...
O ponto de acesso na União e Indústria, este não é difícil lembrar (e de achar nos mapas). Começa numa ladeira quase paralela à estrada, a atual Rua Neuza Goulart Brizola, ex-primeira dama do estado. Seria bom saber o nome antigo, do tempo do Império, mas ainda não me foi possível saber... 
 
Embora mantenha o jeito rural, a região se transformou em área badalada de veraneio, cheia de hotéis, pousadas, haras etc. O que, naturalmente, implicou em muitas mudanças de nomes e certamente na perda de construções antigas: pode ter acontecido isto com a sede da Fazenda da Cachoeira. 
 
Região de Sumidouro, Petrópolis - fonte: Google
Avançando cerca de um quilômetro, tem-se, à esquerda, a Estrada dos Tabões, e pode ser que seja por aí o caminho. Tentei achar, fiz um grande trajeto virtual (no Google Street View) por estas duas estradas, mas, afinal, não consegui ver nenhuma construção que se parecesse com esta, que fotografei em 2003, uma pena...

Tia Batuta, Tia Albertina e D. Nylza
Pedro do Rio, 2003 - Foto Guina Araújo Ramos
Em compensação, encontrei algumas informações sobre a Fazenda da Cachoeira em notícias de jornais da época do Bisavô Muniz, embora nada ainda sobre a bisavó... 
 
De certo modo, há, nestas poucas notícias, um relato, muito sucinto, mas evidente, da progressiva decadência econômica da região e da própria família Muniz Pereira.

Raul, Tio Cica, Tia Albertina e D. Nylza
Pedro do Rio, 2003 - Foto Guina Araújo Ramos
Na Gazeta de Petrópolis de "Sabbado, 23 de Março de 1894", percebe-se a expectativa otimista do proprietário da Fazenda da Cachoeira (muitas vezes, para evitar maiores comprometimentos, os nomes dos donos não eram citados), ao fazer parceria com um comerciante de Petrópolis para o lançamento de um novo produto da fazenda, o café moído.

Dois anos depois, o jornal fala de problemas, não de projetos, ao publicar a "Ata da sessão da Câmara Municipal de Petrópolis" de 23 de janeiro de 1896: tratava das consequências das enchentes e da consequente perda de um pontilhão em suas terras, o que lhe deu despesas.

E a solução deste problema, que devia afetar a produtividade da fazenda, levaria mais de seis anos: só em 1902 seria aberto o Edital da obra de reposição do pontilhão (como se viu na postagem anterior, 03- Buscando o bisavô Muniz).
Talvez as dificuldade de transporte daí decorrentes tenham prejudicado os negócios, diminuindo as vendas do café moído, contribuindo para a desativação do moinho de fubá da fazenda. 
 
Mas, o problema era geral: esta área, meio serrana, tinha bem menos produtividade do que outras áreas do vale do Paraíba do Sul, e nesta época o café já se espalhava pelo interior de São Paulo.
 
O fato é que a Gazeta de Petrópolis, em 22 de maio de 1900, informava que João Muniz Pereira, nosso Bisavô Muniz, conseguiu a sua exclusão da condição de industrial do ramo dos moinhos de fubá, se liberando assim do pagamento do imposto correspondente.  
Fica também evidente, pela quantidade de fazendeiros que o acompanham na decisão do "Povo do Município de Petrópolis, por seus representantes da Assembléia Municipal" (o que já  acontecera com o Bisavô Clavery, em 1893), que este tipo de produto, naquela região, deixara de dar o retorno esperado.
 
Se esta era realmente a sede da Fazenda da Cachoeira, seria interessante saber quanto tempo mais o imóvel pertenceu à família Muniz Pereira. Supostamente, ao menos até a morte do Bisavô Muniz, embora possa ter sido herdada por um dos filhos, e não sei quantos foram, nem quais. 

Não foi o caso, certamente, do Avô João, que viveu ali pelo menos até 1907, local e ano de nascimento de seu filho Oscar, meu pai. Sabe-se ainda que Seu Oscar viveu, com Avô João e Vovó Joaninha, na casa na Estrada União e Indústria, perto da saída de Sumidouro, durante a infância e a adolescência. E que, possivelmente, trabalhou com o pai por uns tempos. Pode ser que o Avô João ainda morasse nesta casa ao morrer, por volta de 1936. Pode ser também que, antes disso, ele e Vovó Joaninha tenham se mudado para a casa de Pedro do Rio, entre a estrada e o rio, a que já conhecemos. 
 
Seja como for, é impressionante que a sede da Fazenda da Cachoeira, na região de Sumidouro, ainda estivesse inteira em 2003, que tenha resistido por mais de 120 anos, desde a segunda parte do século XIX até o início do século XXI.
Não creio, mas fico na torcida (tomara!) que ainda esteja lá... A conferir!
 

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