Nem foi tão difícil encontrar a relação entre a família dos bisavôs Clavery e a Fazenda do Sumidouro, isto aparece em várias notícias de jornais da região do médio Rio Piabanha na segunda metade do século XIX e começo do XX.
Mais difícil foi descobrir onde ficava a tal
Fazenda do Sumidouro... Simplesmente não aparece em nenhum mapa
atual, entre os que pesquisei na Internet. O que se vê são novos
nomes e novos lugares, consequência da elevação de Itaipava à
condição de destaque turístico nacional, fato que mudou
consideravelmente a geografia da região.
Pensei,
a princípio, que a fazenda estaria num ponto mais interno, a alguma
distância do Piabanha, ainda que na região em torno do sumidouro do rio. Um
lugar mais reservado, mais protegido, a que se chegasse pela estrada que
começa no Sumidouro, talvez perto da Fazenda da Cachoeira (supostamente,
que a localização desta é outra dúvida que persiste...).
Depois percebi que os relatos, no que deixavam de falar da Fazenda do Sumidouro, tinham como referência a estrada União e Indústria, dando atenção aos pontos de troca dos cavalos, as Estações de Muda, as rápidas paradas de uma viagem agitada de um dia inteiro.
Era justamente o caso, ali perto, da Estação de Pedro do Rio, fotografada pelo francês Revert Henrique Klumb, para publicação na sua pioneira obra Doze Horas em Diligência. Guia do Viajante de Petrópolis a Juiz de Fora, de 1872.
Depois percebi que os relatos, no que deixavam de falar da Fazenda do Sumidouro, tinham como referência a estrada União e Indústria, dando atenção aos pontos de troca dos cavalos, as Estações de Muda, as rápidas paradas de uma viagem agitada de um dia inteiro.
Era justamente o caso, ali perto, da Estação de Pedro do Rio, fotografada pelo francês Revert Henrique Klumb, para publicação na sua pioneira obra Doze Horas em Diligência. Guia do Viajante de Petrópolis a Juiz de Fora, de 1872.
Então,
reconsiderei... Voltei a achar que a Fazenda do Sumidouro se
localizaria, sim, junto à margem do Piabanha. Até porque era
citada, ainda na Colônia, como "pouso de passagem" de
viajantes que iam e vinham de Minas não mais pelo Caminho Novo (via Pilar, Xerém, Paty do Alferes e Paraíba do Sul), mas pelo alternativo Caminho
do Proença, criado em em 1725 (do Porto da Estrela e pelo Rio Inhomirim, subia-se a Serra da Estrela até Itamarity, hoje bairro de Petrópolis, seguindo pelo vale do Piabanha e pelos altos de Cebolas, hoje Inconfidência, município de Paraíba do Sul). E no correr do século XIX a Fazenda do Sumidouro continuou sendo citada como das
principais fazendas da região.
Só
que eu não encontrava qualquer referência geográfica... Realmente,
o nome, hoje, só se mantém em um restaurante e em um condomínio na
União e Indústria, ambos perto daquela entrada, na direção de
Itaipava. Podia ser um desses dois locais, não tinha como saber...
Seja como for, no que
procurava
informações sobre como e quando o primeiro Clavery apareceu na
região (aliás, no Brasil, e quanto a isto ainda não consegui nada), a "Fazenda
do Sumidouro" era citada, várias vezes, sem indicar a
localização, como pertencente ao Bisavô Clavery e à Bisavó Maria
Júlia.
Estação
de Muda de Pedro do Rio, na Estrada União e Indústria
Xilogravura
sobre fotografia de R. H. Klumb, c.1865
|
Até
que outras notícias deram pistas... A começar pela
nota publicada na Gazeta
de Petrópolis, em 20 de Setembro de 1893, um anúncio de aluguel ou
venda da Fazenda do Sumidouro.
Indicava
que a família se dispunha a mudanças radicais ("ter de
retirar-se para a Europa"), o que pode ser, porém, apenas uma justificativa para camuflar dificuldades econômicas, sendo essa uma época em que a região perdia progressivamente a sua dinâmica.
A
nota não cita o nome do proprietário (fato comum à época, para
não o expor), mas cita Antonio de Almeida Lima, o pai de
Antonio de Almeida Lima Junior, que nasceu em 1882 e teria se casado
(se interpretei bem e se as datas estão corretas), em 1911, com uma das
filhas do próprio casal Clavery, a irmã logo acima de Vovó
Joaninha, a qual, nascida em 1886, passaria a se chamar, com o casamento, Josephina Julia
Clavery Lima. Esta parceria dos futuros sogros, na
tentativa de venda ou de aluguel da Fazenda do Sumidouro, serve de
ponto de partida para a percepção de que os Clavery e os Lima se
tornariam indissociáveis, partindo da amizade para o parentesco, uma relação
que continua, pelo que demonstram empresas posteriores, valendo até hoje.
E o anúncio dava, finalmente, referências geográficas!... Diz que a
sede ("casa de sobrado") da fazenda "tem uma ponte
para passar para a União e Indústria", estrada que foi
inaugurada em 1861. Muito útil esta informação: localiza a fazenda
na margem esquerda do Rio Piabanha!... Cabe lembrar que a Estrada
União e Indústria acompanha o Rio Piabanha pela margem direita
desde Petrópolis até Areal, quando só então muda de lado, para depois retornar.
Por
outro lado (do Rio Piabanha e da sede da Fazenda do Sumidouro), foi construída e passou a funcionar, em 1886, a
Estrada de Ferro Príncipe
do Grão-Pará (um título exclusivo dos príncipes herdeiros brasileiros,
em homenagem à família imperial), ferrovia mais tarde comprada pela E.F.
Leopoldina. O anúncio dizia que a sede da fazenda ficava "na
estrada de ferro do Gram-Pará", ou seja, próxima à ferrovia.
Isto a coloca, necessariamente, entre Itaipava e o Sumidouro, o trecho já
citado do sumidouro do rio e do início da estrada regional. É
interessante notar que hoje em dia a rodovia BR-040 ocupa este
trecho do antigo leito da ferrovia. E aí ficou mais fácil!...
Restava
apenas saber o lugar exato... Já sabemos que a família não foi
para a Europa, mas não dá para saber com precisão quais transações
foram feitas nesta época. Uma questão que só reaparece em
4 de abril de
1901, no Gazeta
de Petrópolis, quando a fazenda é listada como umas das propriedades
vendidas no mês anterior para justamente o já nosso conhecido
Antonio de Almeida Lima (e um seu sócio, em uma sociedade que se desfaria em
1903).
A
partir daí, o que se tem é a informação de que "Nilo
Peçanha adquiriu terras pertencentes a D. Maria Júlia Clavery,
viúva de José Clavery" (vide 2. Buscando os bisavôs Clavery), publicada pelo IHP - Instituto Histórico de
Petrópolis, que não informa a data.
Castelo de Itaipava. À esquerda, sob as árvores, o Rio Piabanha, e a Estrada União e Indústria – Fonte: Internet |
A propriedade, ou pelo menos o prédio da sede
da fazenda comprada pelo ex-presidente
Nilo Peçanha, foi depois adquirida pelo Barão Jaime Smith de Vasconcellos e substituída, a partir de 1920, por um castelo, o conhecido Castelo
de Itaipava.
Conclusão:
onde existia a Fazenda do Sumidouro existe hoje o Castelo de
Itaipava!
Mas,
como seria a fazenda?... As informações na Internet nem sempre são tão
acessíveis assim, e para conseguir mais detalhes e mais profundidade só
mesmo indo aos livros.
Mas, ainda faltava pesquisar a ferrovia Príncipe do Grão-Pará, que passava ao lado da sede da fazenda (e que, neste trecho, foi substituída pela rodovia BR-040). Foi então que encontrei, no site Estações Ferroviárias do Brasil, entre Itaipava e Pedro do Rio, uma inesperada "estação Doutor Nilo"!... A estação, certamente gentileza da empresa ao ex-presidente da República, era uma "parada particular, onde o trem parava conforme houvesse passageiros", e tanto que nem "aparece nos guias".
Mas, ainda faltava pesquisar a ferrovia Príncipe do Grão-Pará, que passava ao lado da sede da fazenda (e que, neste trecho, foi substituída pela rodovia BR-040). Foi então que encontrei, no site Estações Ferroviárias do Brasil, entre Itaipava e Pedro do Rio, uma inesperada "estação Doutor Nilo"!... A estação, certamente gentileza da empresa ao ex-presidente da República, era uma "parada particular, onde o trem parava conforme houvesse passageiros", e tanto que nem "aparece nos guias".
Pois, lá estava a fotografia, publicada pela revista Fon-Fon em 1917,
mostrando o trem, a estação e, ao fundo, a "grande casa de
sobrado" (como descreve aquele anúncio de venda da fazenda do Sumidouro).
"
Legenda original: "O
expresso das 8:40 chegando à parada da fazenda de Nilo Peçanha, a
parada 'Doutor Nilo' (Fon-fon, 16/5/1917)."
|
Tudo
indica, então, que esta era a sede da Fazenda do Sumidouro (que havia passado a ser chamada de a "Fazendola de Itaipava" do Dr. Nilo Peçanha), a propriedade dos bisavôs Clavery,
onde Vovó Joaninha viveu a sua infância.
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